sexta-feira, 13 de abril de 2012

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Ahá! Amor.

Onde vamos escolarecer? A escola do viver é o mais. Das vezes. Inda ontem eu via o vídeo do Lennon com a canção Love. Ele e Yoko no parque, dançando, ela com uma pena branca nos cabelos. O Lennon com sua dama da noite e do dia. E a escola da vida ensinando o hino. Por nossas pazes, por nossos desvelos, por nossos novos cabelos de lã, por nossas manhãs sem e com bom dia, por nosso cenho, por nossas graças, por nossas mansas ousadias, por nossos incontinentes atrevimentos, eu ouvi e rebento, Yoko e seu cavalheiro, da noite. Do dia. O amor é livre, livre é o amor. Bonita criatura a que encanta e se encanta no Amor.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

her taste of adventure is not exhausted

They say it's the way you wear your hat
I say it's the mind you have on at
they say it's me, my style, my tos and fros
i say it's the weather, the blues, the wooes
They say your pajamas were cute
I say your flavors are absolute
And so we go on saying this and that
Till we cannot stop
And the night becomes a nightmare
Full of reasonable thoughts
Not until I won't be able to sleep
I'll watch you in deep
In your dos and dids

como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 21

Tudo o que escreve é um espelho do que é. Ele diz o que vê nela que é justamente o que existe nele.
Não é coerente em nada. Pois não é a pessoa que comanda a vida: é a vida que comanda a pessoa.
Escreve o que lhe dá vontade. Ela lê porque quer.
Por que dá explicações sobre quem é?
Porque sente vir um ataque cardíaco. Para fazer um inventário. Para se crer remediável.
Sabe tudo de memória: por isso, precisa esquecer. Praticar o esquecimento para não se levar preso por vida. Perder os traços do rosto dela, perder o som de sua voz. Deixar que, com o tempo, ela não seja nada, ainda que veja sua fotografia.
O que tem para dizer é o que nasce no momento. Se se repete, é porque se repete. Porque não há criação possível, enquanto for enquanto.
Tem razão em tudo o que diz, mesmo que o tempo passe. Tem razão em tudo o que diz, e ainda assim, segue dizendo a mesma coisa.
Tudo é uma repetição e também ajuda a esclarecer.
E lhe parece incrível que ela siga querendo vê-lo e lê-lo.

(A esperança é uma coisa violenta.)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 20

Cama doble. Não era tarde, e os travesseiros fofos. Às vezes, o jotacá pode ser transportado. Com a outra pessoa, se faz cabana na floresta, os galhos cobrem nossos corpos, e vamos andando. Se encontramos um ao outro no caminho, estamos em graça. Com aquela disposição de esfregar um corpo no outro e produzir fogo, foi assim desde a pedra lascada, acarinhar as vontades e chegar num jeito que só de dois se logra. As cascas da árvore no chão amenizam as pisadas de nossos pés, vamos. Solamente una vez. Nos agarramos ao tronco mais forte e subimos, subimos, como escreveu Vinicius de Moraes, a subida exige fôlego, fazemos ar e encontramos os fôlegos para descansar, inspirar e expirar, de duo, de outra terceira margem para nossos rios, que rios que correm paralelos não se encontram nunca, mas há o delta, logo ali, e as águas se misturam, por esse encontro nos fortalecemos, por esse encontro nos damos, por aí é que subimos e descemos, vemos as colinas, picos rápidos e corremos nus, na floresta que é nossa cabana, na cabana que se alargou, alcançou extremidades há muito desconhecidas, o alto e o baixo de todo o movimento, o calor erguendo nossos braços e espalmando pernas, cuspimos labaredas, queimamos folhagem, fazemos nova geografia, que a floresta em que entramos nunca mais será a mesma.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Como fazer de seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 19

THE KNIGHT OF CUPS
This card is traditionally entitled the Knight, but in some modern decks appears as the Prince. Traditionally, this card in this suit has pictured a homecoming -- portraying a return to his true heart's home after a long journey. Like the prodigal son, he may be returning after long estrangement from all he holds dear.

His taste for adventure is exhausted -- there is no more romanticizing of battles or travel in strange lands. Now he wants to go where he will be recognized, wanted and welcome -- where he doesn't have to fight at every turn. He has the attitude of one who has become older and wiser, the prodigal son.

The warrior returns an ambassador of peace. The traveler comes home.
When the Knight of Cups (in some decks, a Prince) is in this position, something or someone that was lost from your life may be returning. It could be an influence or a memento. It could also be a person coming back from a journey, one that separated from you long ago. A cup of wisdom, initiation or awakening will be presented to you.
Take a look at how you have been wandering down your chosen path.

DEATH

Let go of the past and move forward into a new phase of being.
This card portrays the action of winter on the landscape -- lush greenery is cut back, revealing the bones of the landscape. The season of dark and cold separates the annual plants, that live and die in one year, from the perennials, which can take refuge in their root systems until the following Spring, to sprout anew. As the scythe cuts the cords that link us to the past, it liberates us to go forward without fear, because we have nothing left to lose. We can see that everything pruned away is recycled for the fertility of the future, so that nothing is really ever lost, despite seasonal cycles of gain and loss.
The Death card is calling you to shed old identities in order to be able to express new ones, much like a snake shedding its skin. Go through this process of transformation willingly and voluntarily.

By cleaning up after the past and clearing away its residual effects, you make room for a higher manifestation to emerge. Think of this as a form of recycling in which you let go of attachments that would otherwise bind you to outworn thoughts and behaviors. You are turning a page in your life. Cast off the detritus of the past and look forward to the future with optimism.

THE HIEROPHANT
Help make the invisible visible.
The Hierophant in this position points to someone who is recognized and respected for the qualities that once made them seem strange to others. People like this see into the invisible spaces, communicate with animals, plants or the elements, and generally live in the world but are not bound to it.

Although an extra degree of sensitivity to your experience of life has at times seemed a setback, the Hierophant is now in a position to make it pay. This is a specialist, a person with a gift. With self-discipline, you can turn your unique point of view into a path of service.
the one who passes on the teachings.
This card can point to recurring themes in the challenges you have faced in your life -- and to opportunities that may yet present themselves. Can you think of any patterns which are returning to affect you now? If so, try to recall how you have reacted in the past. Perhaps you can see new potentials, while noticing the hidden pitfalls too. Can you imagine a different way of responding to the situation this time around?

The wisdom of this card can help you turn surprises into strengths, blind spots into windows of opportunity. Bring creativity and flexibility to the way you go about your way in the world. Your expanding capacity will become an asset and source of inspiration to all.

Como fazer de seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 18

"Nós, homens do conhecimento, não nos conhecemos; de nós mesmos somos desconhecidos - e não sem motivo. Nunca nos procuramos: como poderia acontecer que um dia nos encontrássemos? Com razão alguém disse: 'onde estiver teu tesouro, estará também teu coração.' Nosso tesouro está onde estão as colmeias do nosso conhecimento. Estamos sempre a caminho delas, sendo por natureza criaturas aladas e coletoras do mel do espírito, tendo no coração apenas um propósito - levar algo para 'casa'. Quanto ao mais da vida, as chamadas 'vivências', qual de nós pode levá-las a sério? Ou ter tempo para elas? Nas experiências presentes, receio, estamos sempre 'ausentes': nelas não temos nosso coração - para elas não temos ouvidos. Antes, como alguém divinamente disperso e imerso em si, a quem os sinos acabam de estrondear no ouvido as doze batidas do meio-dia, e súbito acorda e se pergunta 'o que foi que soou?', também nós por vezes abrimos depois os ouvidos e perguntamos, surpresos e perplexos inteiramente, 'o que foi que vivemos?'(...)"

Nietzsche, F. in A genealogia da moral

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Como fazer de seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 16

Foi por literatura que não me afundei no teu pescoço e morri na gola da tua camisa, foi por amor a Mário, Carlos, Julio, Clarice (os amores possíveis), foi por letras de Renato, por páginas de Florbela, por sussurros de Gullar, esse meu nobre pobre amigo de agosto, foi pelo mês de agosto que não sucumbi a teu rosto pequeno mas teu rosto no canto da tela - ausência tua, bastava uma tecla minha. Foi por literatura, por essas infâmias, foi por nossas estranhas maneiras de comportamento, foi por um belo instrumento de fala, foi porque tenho agora a fala rala, porque hoje não é novembro, porque chove, porque parou de chover, porque na foto o céu é sempre azul e liso engomado no ferro a vapor, que literatura, que palavras duras chegando a pontos finais, o ponto marcado, o encontro. Foi por querer Hilst e dormir com Andrade, acordar suada, os tapetes peludos e a cara aberta do Ferreira no retrato, foi por te amar de quatro, por feder a minha blusa e por não saber mais (perdendo os traços de Beatriz) como é o beijo do teu beijo que tocou minha boca que beijou a tua e te deu o beijo. Foi por literatura, pelo capítulo sete, foi pela esquina de nazca com aquela outra, foi porque pensei e se eu tivesse ido com o garçom do restaurante ao lado do teu prédio naquela tardezinha?, ah, foi por literatura, vai, porque era teu o sorriso irônica a covinha o doce dentro do ouvido fazendo perfume na praça, foi por correr nua ao lado do cavalo que soltaste das correntes aos dois graus e meio, a tevê ligada, a senhora chorando na portaria, os casais entrando contentes, mais contentes ainda saíam, foi pelos hífens que eliminaram da ortografia, pelos sanduíches de miga no Rivadavia, pelas migalhas que se produzem entre a noite e o dia, pelas tardes de trem, preguiça, uma poltrona aberta com o teu corpo dentro, teus olhos voltados pro firmamento, uma porta arrancada, às pressas, teus vazios na escada, a massa morta de mim ao lado do gato, os berros de que não fui eu, a esteira, (Bersuit nos alto-falantes anunciava a partida, minha, para a terra, de ninguém, no acaso. Ia, pelo bem).

[Para ler com voz de Elisa Lucinda ou pedir pra ela ler, se chegar perto]

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Como fazer de seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 16

O guapuruvu

Naquela noite, a garota e seu partner voltaram do bar na carona do caminhão da Coca-cola. Madrugada, pouca gente, ela sabia dirigir, mas não tinha carro. Ele tinha carro à disposição, mas ainda iniciante na autoescola, não andava no corcel de noite. E como os pais dela não gostavam da filha cantando em bar da Cidade Baixa, não emprestavam a belina. Sentaram nos engradados, ele segurando o violão, e os bolsos forrados do couvert artístico - coisa de três pila por cabeça, que o violonista e a cantora crooner dividiam a 1,50 para cada um, houvesse só um vivente no bar assistindo, era isso que cada um levava pra casa. Havia poucos bares de música ao vivo na cidade, do tipo voz e violão. O Cokeru´s era de um argentino que dera por aí com os cornos, saído sabe-se lá de quê. De vez em quando, ele pedia que a gente fizesse Alfonsina. E a gente fazia. Cantava junto, o argenta. A garota de 19 anos atraiu muitos amigos seus e de seus amigos para o estabelecimento em frente ao Pão dos Pobres. Ovelha negra, da Rita Lee, não podia faltar. Era inverno. Ela gostava de usar o blusão tricotado pela irmã, todo colorido. Cabelo curto, pegava o microfone de madeira, isso mesmo, de madeira!, olhava bem pra ele. E cantava noite afora.

Como fazer de seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 15


Os namorados, os amantes (imagem do tarot de Alester Crowley)
O Arcano VI parece referir-se de forma alegórica à famosa parábola de Hércules na encruzilhada entre a Virtude e o Vicio, tal como conta Xenofonte nas suas lembranças de Sócrates.
A antiguidade desta parábola é indiscutível, mesmo que as suas representações gráficas mais remotas não tenham chegado até nós. Na vida de Apolônio de Tiana, narrada por Filostrates no final do século II, há uma curiosa passagem em que um sábio egípcio diz a Apolônio:
“Tu conheces, nos livros de imagens, a representação de Hércules em que ele, jovem, ainda não escolheu o seu caminho. O Vício e a Virtude o rodeiam, tentam atraí-lo, cada um o quer para si...

Os amantes representam o impulso que nos leva à vida adulta.
Às vezes, o impulso se manifesta como curiosidade; outras, como desejo sexual; e ainda, se manifesta como um dever, uma missão. Seja o que for, uma vez que ultrapassamos as portas do Jardim do Éden, não há retorno.

Precisamos das pessoas para nos tornarmos completamente humanos. Amantes, amigos, adversários - cada um nos ensina, nos faz ir além. Pode nos matar. Pode partir nossos corações.



http://www.clubedotaro.com.br
http://en.wikipedia.org

Como fazer de seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 14

O que é austeridade?
Austera idade.

(e, segundo o Houaiss...)
Autocontrole. Importante, não com grandes alturas, porque o tombo será enorme.
Autodomínio. Parece mas não é autocontrole, é domínio com largueza de si. Cada vez mais difícil quanto mais a gente vê que o tudo que se sabe não é o que se crê. Melhor ir, mesmo assim.
Circunspecção. Se for no círculo, cuidado.
Comedimento. Detesto.
Compostura. Abomino.
Continência. Horror.
Critério. Ahá.
Desafetação. Impossível. Sem afeto?
Despojamento. Se for, assim, despojar-se do número de jeans, colares, pulseiras, valores que se vão. Mas também são úteis, quando não são fúteis.
Discrição. Está bueno eso.
Equilíbrio. Está mejor. Precisa do desequilíbrio, do not forget.
Frugalidade. Levinho.
Gravidade. Inexorável.
Juízo. Não carece, mas cacareja.
Lhaneza. Lisura?
Maneiras. Não há quem não as tenha.
Método. Não há quem não o tenha.
Moderação. É do ser humano?
Modéstia. Existe.
Modo. Jônico.
Naturalidade. Palavra que corre junto com o rio.
Ordem. Esteticamente, melhor que desordem.
Parcimônia. Ná.
Ponderação. Para entrevistas de emprego.
Prudência. Idem.
Recolhimento. É o colo.
Regra. Menstruação.
Reserva. Em bons hotéis. E no encontro marcado.
Respeito. É bom e eu gosto.
Retraimento. Gosto e dá dor nas costas. Que nem comer tatu.
Rigor. Monástico? Sou acometida.
Sensatez. Minha infância.
Senso. Minha infância.
Seriedade. Minha infância.
Severidade. Cansei.
Simplicidade. O galho que está crescendo pra dentro da minha janela.
Singeleza. O verde da folha desse galho.
Siso. Dente.
Sisudez. Eu com cinco anos.
Sobriedade. Nos agoras, arf.
Têmpera. Tinta.
Temperança. A carta do tarot, a água escorre de um vaso a outro, para que se tempere.
Tino. Fundamental.
Virtude. Sou cheia, hhmm.
Vulto. Susto.
Restrição. Dor.
Vigor. Astúcia. Dança.

Como fazer de seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 13


n e c e s s i d a d e d e c o r t a r l a ç o s

Um homem barbado,
recurvado,
de idade avançada,
segura em sua mão direita uma lanterna parcialmente coberta por uma capa, que representa o conhecimento da ciência oculta.
Ele se apoia no bordão (bastão) da prudência, que o acompanha em sua busca.
O ermitão ou eremita mantém a lanterna bem perto dos olhos para se orientar melhor, mostrando a luz da inteligência e da sabedoria.
Esta lamparina também significa a luz da verdade.
A luz atinge o passado, o presente e o futuro.
O tom escuro de seu manto simboliza a austeridade.
Ele segue sua viagem através do tempo como um solitário,
tendo como único consolo a sabedoria, que as vezes, é um penoso fardo.
Este arcano se refere à acumulação de conhecimentos e está disposto a ouvir e ajudar os que o procuram.
Representa o valor do conhecimento adquirido à custa de trabalho ininterrupto, que apenas mentes privilegiadas conseguem desenvolver.
A luz do ermitão o envolve e o inclina à pesquisa paciente, aos estudos.
O Eremita ou Ermitão é o nono Arcano maior do Tarot.
É uma carta que simboliza o isolamento, restrição, afastamento.
O eremita isola-se para descobrir o conhecimento que o rodeia, na natureza, por exemplo, e também para se autoconhecer.
O aspecto fundamental é que necessita cortar os laços (temporariamente ou não) com a sociedade que o rodeia.
A carta tem o número IX e a letra hebraica TET.

Extraído/adaptado de Wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Eremita_(Tarot)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 12

"E já que falei na minha aventura peço uma coisa e aviso outra. Não pensem vocês, aí de Minas, que sou um qualquer leviano e estou dando por paus e por pedras sem saber bem o que estou fazendo. A aventura em que me meti é uma coisa séria já muito pensada e repensada. Não estou cultivando exotismos e curiosidades de linguajar caipira. Não. É possível que por enquanto eu erre muito e perca em firmeza e clareza e rapidez de expressão. Tudo isso é natural. Estou num país novo e na escureza completa duma noite. (...) O povo não é estúpido quando diz 'vou na escola', 'me deixe', 'carneirada', 'mapear', 'besta ruana', 'farra', 'vagão', 'futebol'. É antes inteligentíssimo nessa aparente ignorância porque sofrendo as influências da terra, do clima, das ligações e contatos com outras raças, das necessidades do momento e da adaptação, e da pronúncia, do caráter, da psicologia racial modifica aos poucos uma língua que já não lhe serve de expressão porque não expressa ou sofre essas influências e a transformará afinal numa outra língua que se adapta a essas influências. Então os escrevedores estilizam esse novo vulgar, descobrem-lhe as leis embrionárias e a língua literária, única que tem reconhecimento universal (aqui sinônimo de culto) aparece. Nessa estrada me meti. Sei que tudo está por fazer. E o que é pior sei que uma palavra brasileira empregada na escrita soa pra todos como exotismo, regionalismo porque só como regionalismo exótico foi empregada até agora.(...)"
Mário de Andrade in A lição do amigo (cartas a Carlos Drummond de Andrade, escritas entre 1925 e 1945)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 11

Vinho tinto com os UB40. Uma cabana na floresta tem gente dentro. Mais de uma pessoa, a não ser que seja a morada do eremita, aquela carta bonita do tarot. O filme foi Philadelphia, o ator, Tom Hanks, e eu não tinha lembrança nenhuma de que o Banderas trabalhava aí. A cabana esteve quente desde a noite até a manhã. Não parece mais o lago gelado com o monstro dentro. Agora, é a clareira na floresta, e o monstro cuida pra não se queimar. Hare.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 10

A cabana, ontem, estava montada. No aquecedor, a toalha, as calcinhas, secavam. No rádio, um episódio de Woodstock - Janis, principalmente -, homenagem ao aniversário de 40 anos do festival, em 15 de agosto. Ah, e I put a spell on you, by the Blood, Sweat and Tears. Nesse aconchego, o E.T. conheceu: minha casa... minha casa. Embora as dores de nervo e músculo, que a acupuntura vai ajudar a tratar. Embora seja: uma pessoa e uma pessoa e uma. Eu.
O jotacá virou cabana mesmo: contei mais três camas, além da minha.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 9

"The river always called to be visited after dark, the fields needed to be walked in so they could make their rustle-talk. Fires needed to be built in the forest at night, and stories needed to be told outside the hearing of grown-ups. (...) they danced in the forest where no one could see them, or in the basement, or on the way out to empty the trash. Self-decoration caused suspicion. (...) I lived my life as a disguised criatura(...) I've not forgotten the song of those dark years, hambre del alma, the song of the starved soul. But neither have I forgotten the joyous canto hondo(...)"
Clarissa Pinkola Estés in Women who run with the wolves.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 8

Sem acabamento. É claro, um verde ali. E margaridas. As pernas do jeans vazias na poltrona. A água correndo no chuveiro. O rádio cantando. Nas frestas da persiana, o lustre da casa ao lado. Meias. Empillhados, os dois volumes de As mil e uma noites. Terra no solado da bota, sabão gasto no tanque, alguém andou ouvindo minha Billie. O guapuruvu: mato escuro.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 7

do-do-do-do. Água pura da fonte. Canto vindo do fundo, rosto parado, boca trabalhando.

Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 6

"(...) escute, Senhora D, se ao invés desses tratos com o divino, desses luxos do pensamento, tu me fizesses um café, hein? (...) Agora que Ehud morreu vai ser mais difícil viver no vão da escada,(...) Senhora D, é definitivo isso de morar no vão da escada? você está me ouvindo Hillé? olhe, não quero te aborrecer, mas a resposta não está aí, ouviu? nem no vão da escada, nem no primeiro degrau aqui de cima, será que você não entende que não há resposta? (...)
Quando Ehud morreu morreram também os peixes do pequeno aquário, então recortei dois peixes pardos de papel, estão comigo aqui no vão da escada, no aquário dentro d'água, não os mesmos, a cada semana recorto novos peixes de papel pardo(...)"
Hilda Hilst in A obscena Senhora D

Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 5

Cabana é habitação pequena ou simples, geralmente campestre ou em local afastado, feita com materiais rústicos ou de pouco valor (como palha, ramos, etc.) e sem acabamento; barraca. A cama que comprei já lembra as de campanha, embora não seja de madeira, mas de metal. Mas ontem, quando estive no apartamento, pareceu que alguém por lá andava. Um tecido esticado em tons de azul pendia da grade da cama esta, logo na entrada, dando ares de cortina, como que protegendo alguém ou algum lugar. Pareceu um abrigo. Pareceu habitado. Fazendo já bem uns dias que não durmo lá, diria que o espírito que evocava durante o expediente viajou para lá, no meio da tarde.
O agosto branco hoje fotografado na capa do jornal, mostrando a capa de nuvens que cobre a cidade de São Paulo e impede o pouso dos aviões, remete à imagem que vi, horas antes, de um alpinista no cume do Aconcágua: o mesmo branco, o tapete, a terra firme que engana o olho. É esta capa nebulosa que talvez vista as razões, agora, de uma pessoa inventar tantos recursos para querer se instalar num espaço. Nunca foi tão difícil. A capa branca de agosto pode, quem sabe, enganar ideias: vim de um inverno gelado, de uma morada estrangeira, de uma esquina de colégio e Quilmes quebradas no asfalto. Vim da quadra do kiosco do Rolo e dos bilhetes que me deixavam ali, e que ele, Rolo, guardava. Das noites de cumbia no rádio, amor e calor, a eternidade. Lá, eu me encolhia nos xales e devorava os capítulos da Rayuela.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 4

O que já adianta um lado é que no meu jotacá a janela dá para uma árvore e ali pousam passarinhos. Agora, quando se olha, entrando, para o recinto, parece uma cozinha com móveis de quarto. Digo cozinha porque o chão é de uma. Aqui o desafio é maior: importantíssimo revestir esse chão gelado. Numa cabana, as coisas de que ela é feita vêm da árvore. Num apartamento, os materiais vêm do cimento, da cal, dos rejuntes. Onde entra uma pessoa no meio de tanto rejunte?É o lugar da pessoa, ou das pessoas, que reivindico aqui, e por isso vou preparando, tomo a tomo, um espírito que possa habitar aquele compartimento. A mãe-natureza, os quero-queros, um poço artesiano, macegas, a estrada correndo e dobrando até que se chegue, cansado e feliz. Sim, eu tenho: esperança.

Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 3

Uma luzinha de teto bem em cima da cama com aquela cordinha pendurada para acender e apagar. Vi isso ontem na cabana da família de Dan, personagem do filme Eu, meu irmão e nossa namorada (ou algo assim). A casa é toda de madeira por dentro. E é bom a pessoa deitada poder ficar puxando aquele troço, escuro-claro-escuro-claro-escuro-claro, em seguida se ouvem os grilos.
Outra coisa que tem é muito pano - colcha, cobertor dobrado, cortina, toalha na mesa.

Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 2

Primeira ideia: nao dá. Jotacá é jotacá, cabana é cabana. Na floresta, então...

O que eu quero ser quando crescer - tomo 1

Tudo começa no número 1.

Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 1

Respire.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Filmes que eu quero ver

1. Irma la douce (um monte de vezes)
2. com Anthony Hopkins (escolher BEM)
3. com Phillip Seymour Hoffman (idem, esses americanos...)
4. de Luchino Visconti
5. de Fellini
6. de Trouffaut
7. de Pasolini
8. de Glauber Rocha: Deus e o diabo na terra do sol e Terra em transe
9. primeira temporada de Law and order - Special Victims Unit
10. não sei o que do eu te amo (está passando ainda na cidade)
11. Loki (de qualquer maneira)

Ficando

Fui ficando só. Uma pessoa dizia: você não pode se lembrar da morte de fulana, você era tão criança. Daí, pra mim, eu já estava fora daquela conversa. Não era aquilo. Era uma ferida grande e não tinha palavrea. Eu seguia, evitando aquela pessoa. Não que me conformasse, pelo contrário, eu desejava a morte da pessoa. Queria continuar, que é mudança, não tinha muito o que fazer naquela vida parada. Não nasci para fotografia. Para ser aquela que só é olhada, assistida, como se assiste televisão, uma propaganda.
A ânsia me arrastou, se eu conhecesse uma pessoa certa das coisas aquilo ia me sumindo, eu sumia pra poder estar com a pessoa. Depois, não aguentava. Quarenta anos parada no dilema, ou me julgando obrigada.
Me deu um nojo quando vi que a minha vida ia ficando por causa do que eu achava que as pessoas achavam de mim e que poderia desagradar. Comecei a andar, era o caminho triste, a ilha do medo, coisa e tal, mas antes eu tinha mais medo de nada. Ficar triste é uma moda de ficar bom pra si. Não ter a dívida, de ouro, que tanto maltrata no pensamento. Eu não conheço pessoa de bem que não seja um pouco estúpida, conheço mais gente de doideira que dá grandes feitos e depois esquece. Também não estou pra porrada - eu levo, aí eu vejo aquela porta aberta, e pode ser só uma frestinha, é por ali que eu vou. Isso se a coisa me dá nojo e dor no corpo. Hora em que não tenho mimos, não dou mimos, fecho e deu.
Tem de ser golpe fundo e pesado, mas às vezes, de gente pouco conhecida, pode ser uma sacadinha de nada. Fui ficando só. A gente aguenta de pé a solidão - esse caminho.
Toma de pé o vento, na cara, aí já não tem cabimento - por febre, por corno, por desdita, por qualquer amarelo que não for amarelo, uma pessoa segue pesando as suas medidas. Cada pessoa tem as suas medidas. De nada vale o metro do outro. Olho parado e besta não é.

Eu não sou velho, não.

E hoje subo "a subida mais escarpada, a mais à mercê dos ventos" (C. Lispector).
Em nós extremos, sorrio. Fui ao mercado para tomates. Faço sopa de tomates como ninguém. Gosto porque, lá em casa, o chão todo se desenha de peles de tomates que vou jogando. No mercado encontrei Graça, simpatia, queria ter os olhos dela no meu preparo da sopa. E ela me diz: bom dia, seu Leno. E eu: bom dia, moça Graça. Não sou velho, não. Mas penso que sou, no geral. Então Graça, que escolhia asas de frango, se mete nos meus tomates. Prefiro os graúdos mas ela pega os mais vermelhos de qualquer tamanho. Não vou discutir com Graça, eu, um velho que só come tomates. Carrego a cesta e vou para a balança. Não que eu quisesse convidar Graça, não que eu deseje convidar alguém para experimentar a minha sopa, disso estou farto, convites implicam, eu não tenho gosto por nada que implique. Mas volto pra casa alegre, abro a porta (alegre), pelo os tomates (alegre) e canto (se algum dia você vier me buscar, eu vou ai, ai, eu vou, eu sou marinheiro). Contratado para os meus afazeres, começo a morder os tomates crus, passo sem sopa. É amarga, mesmo.

On The Sunny Side of The Street

Grab your coat and get your hat
Leave your worry on the doorstep
Just direct your feet
To the sunny side of the street

Can't you hear a pitter pat
And that happy tune is your step
Life can be so sweet
On the sunny side of the street

I used to walk in the shade
With those blues on parade
But I'm not afraid
This rover crossed over

If I never have a cent
I'll be rich as Rockefeller
Gold dust at my feet
On the sunny side of the street

[ piano - harmonica ]

I used to walk in the shade...

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Julio

http://www.youtube.com/watch?v=JDfYG0BIsjA&feature=related

Julio, Julio

"(...) Cualquiera me gana una discusión. No sé defender mis puntos de vista. Pero cuando escribo, en todo caso hay otro camino."

Julio Cortázar in http://www.youtube.com/watch?v=pGe5KiA6cIc

quinta-feira, 23 de julho de 2009

o jogo do mundo (rayuela lá em portugal)

"(...) Foram necessários 45 anos para que Rayuela, de Cortázar, chegasse a ter uma edição portuguesa, esta edição. Se considerarmos que se trata do livro incontornável de um autor incontornável na literatura do século XX, é fácil constatar que 45 anos é uma espera demasiado grande. E, no entanto, esse foi o tempo necessário para que Rayuela chegasse a ser O Jogo do Mundo, o livro que tem neste momento em mãos. Parece-me que todas as editoras portuguesas, desde 1963 até aos nossos dias, deveriam sentir algum embaraço (pelo menos) perante este facto.
Foneticamente, Rayuela é uma palavra que rola pelo interior da boca, como um doce que se desfaz, mas é também verdade que O Jogo do Mundo é um bom compromisso para um título que não é fácil de traduzir em todas as suas tonalidades. De um modo literal, rayuela significa jogo da macaca, esse jogo no qual se atira um seixo e se salta ao pé coxinho. (...) a ideia e a imagem desse jogo estão ligadas a um aspecto que talvez seja o mais referido quando se fala deste livro: a sua forma.
No seu início, o leitor encontra uma tábua de orientação que sinaliza dois modos de ler este texto de Cortázar. Hoje, 45 anos depois, já é possível acrescentar que, para além das possibilidades indicadas pelo autor, têm sido sugeridas várias outras. Este é um livro que, em nenhum momento, minimiza o seu leitor, facilitando-lhe o que quer que seja. Este é um livro que convoca cada leitor para dentro de si, que o solta num labirinto sem lhe indicar a real saída, nem sequer se existe mesmo uma saída. O facto de não haver uma ordem única de leitura é um convite ao leitor intrépido para que arrisque a encontrar os seus próprios caminhos nesta obra. Assim como o terá de fazer neste jogo que, como indica o título português, é o mundo, é a vida. Isto porque é a própria vida que nos é apresentada de um lado e de outro. A vida, para a qual não existe qualquer tábua de orientação. Não creio que esteja a revelar demasiado se disser que é também assim que Horacio Oliveira, o protagonista, sente as imagens e as ideias que flutuam diante de si, consigo. O caos em luta permanente com a ordem: vitórias para ambos os lados.
(...)Como em todos os grandes livros, existe a procura do novo, mas aquilo que se alcança não é uma imagem da própria experimentação, aquilo que se alcança é o contemporâneo que, a avaliar pelos 45 anos de vida que já tem, continua e continuará sempre a ser contemporâneo. As meditações, as discussões filosóficas e literárias, frequentes nestas páginas, são de uma actualidade feroz. Além disso, este O Jogo do Mundo e, também, um livro de prazeres literários tradicionais, como sejam aqueles que advêm de uma caracterização muitíssimo rica das personagens e dos lugares, de uma linguagem variada e imaginativa, com excelentes diálogos e um domínio extraordinário do simbólico e do metafórico. Mas ninguém que conheça a excelência dos contos de Cortázar se poderá surpreender com a mestria que demonstra nesta longa múltipla unidade - se me é permitido o paradoxo. (...) 'o leitor prescindirá de ler o que se segue sem grandes remorsos'. Pela minha parte, a partir do lugar onde me encontro, nunca saberia como considerar dispensável a leitura dessas páginas. Já este prefácio nunca teve a intenção de não o ser. Quem não o tiver lido, seguirá sem remorsos grandes ou pequenos por tudo que aí vêm. (...) a esse potencial leitor indeciso este prefácio quer dizer: sim, deve ler este livro.
Mais nada. O indispensável começa depois desta última palavra."

José Luís Peixoto in Prefácio dispensável à primeira edição em Portugal de O Jogo do Mundo, tradução de Rayuela, de Julio Cortázar, publicada em 2008, pela Cavalo de Ferro Editores.
Extraído de www.cavalodeferro.com

terça-feira, 21 de julho de 2009

cor corpo

cartão postal também


miro la estrella a las tres de la mañana debil azul oscuro
L A E T E R N I D A D
hago caso de hacerme un caracol arrodillada con el almohadón
y no me tiro diez pisos abajo
H A Y Y O
D E N T R O D E M Í
H A Y Y O
ganas de ser una clochard irme a vivir bajo un puente
aprender la rayuela una y otra vez una y otra vez
cuando hay tiempo y silencio, lloro
vivo de invenciones bellas
crear y crear
una y otra vez
para no hacer ruido
para no dejar abiertas las puertas
prendidas las luces
todo lo que soy trasborda
y me voy recogiendo por las calles en el centro de porto alegre
mirando los ambulantes que venden de todo
collares, anillos de semillas
remeras con la cara de che y lennon
el mac donald's alto al final de la vereda
una tienda de piedras preciosas y energeticas sacadas del suelo riograndense
un muro cerca la ciudad que aun así está a la orilla de un río
una mujer fuma acostada en un banco de la plaza de alfandega
los hombres bien vestidos (como en el barrio de tribunales)
las chicas abogadas cargan procesos con sus tailleurs
y zapatos de punta y tacos finos
E S C U C H O B E T H A N I A H A C E C A L O R
marcho para la tienda
me compro una zodalita
y me digo:
la tardecita de porto alegre tiene ese qué se yo, viste?
salgo de casa por arenales,
las olas altas me tragan de un solo golpe
sal y cuerpo de eliana por todos lados
el colectivo rojo me abre la puerta
desde el alma agradezco
tengo un viaje por adelante
P U E D O S O Ñ A R

olho

uma parte daquilo que nos move

A radiografia que vemos aí busca

busca

busca

a expressão de

pelo menos mais de um caráter

mais de um rito

mais de um estado

que é, pode-se dizer,

a manifestação do que seja a pessoa.

(A mancha azulada: seria tão bom se por aí nos enxergássemos manchas azuladas?)

Não satisfaria os desejos

o bom e o ruim e o feio e o bonito e tal

- tudo a gente quer que esteja atribuído, ali, na pessoa.(?)

Mas o que temos, no dia-a-dia

é o corpo vestido

que se transporta

emite sons

se conforma a um espaço depois a outro

reage a sinais

cria outros

reproduz o eco dos acontecimentos

ih

mas está involucrado no limite da pele

- fisicamente, a embalagem.

Então, o raio xis que vemos aí busca.

Busca o que não se vê

e por isso

não se convive com

não se conhece

mas que é

a variável imaginada

de um dentre os incontáveis elementos que compõem o que pessoas são.



cartão postal


Esta luz,

esta mesa de trabalho,

o papel cor de limão,

as unhas descascadas,

de vez em quando,

assim como uma gripe,

uma tontura no meio da tarde,

o sono que entrega às sete,

as coisas encravadas no ar

hão de precisar de ti,

clamar tua forma,

existir por tua estada no mundo ainda que não durem a temperatura do corpo,

ainda que só o meu corpo possa exsudar algo de calor,

ainda que esses instantes comecem,

breves,

e que em mim termine o intervalo,

e que as mãos gelem,

os lábios se apertem,

pois não você não está,

é fato,

em nada,

a não ser em meu estado de graças ou nostalgia,

um cão na rua que se aproxima do esgoto,

(ali o cão terá mais calor que o esgoto, imagino, não que haja comparação, pois não há).

Por isso a frase se faz,

e acabo outra.

As frases são para emprestar

e enquanto têm, compõem,

mas também tomam respiração.

Até a frase,

estrutura completamente incompatível com a vida,

é fôlego.


Nisto que é uma radiografia de mim,

o pleonasmo,

a elipse,

a hipérbole,

na inutilidade,

a pessoa vem em sua total condição:


cartão postal.




colo (da mão)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

tradução de artigo de www.pagina12.com.ar

Sabiam e ajudaram um pouquinho
A Casa Branca conhecia há meses o golpe que se preparava em Honduras, ainda que agora os porta-vozes do Departamento de Estado finjam uma inocência surpreendida. O atual embaixador estadunidense em Tegucigalpa, Hugo Llorens, sabe muito bem: o 12 de setembro de 2008 chegou no país centro-americano e, nove dias depois, o então golpista general Romeo Vásquez declarava pela emissora HRN que o haviam procurado "para botar no governo o presidente Manuel Zelaya Rosales" (www.proceso.hn, 21-9-08). Acrescentou: "Somos uma instituição séria e respeitosa, por isso respeitamos o Senhor Presidente como nosso Comandante Geral e nos subordinamos como manda a lei." Igualzinho a Pinochet, antes de levantar-se contra Salvador Allende. Qualquer semelhança é mera obra da realidade.
Em 2 de junho deste ano, Hillary Clinton auxiliou Honduras a participar de uma reunião da OEA. Entrevistou Zelaya e manifestou a ele sua desconformidade com o referendo que o mandatário planejava levar a cabo simultaneamente com as próximas eleições presidenciais. Funcionários norte-americanos assinalaram que "não acreditavam que este plebiscito fosse constitucional" (The New York Times, 30-6-09). Seis dias antes do golpe, o jornal hondurenho La Prensa informava que o embaixador Llorens tinha se reunido com políticos influentes e chefes militares "para buscar uma solução à crise" causada pelo referendo (www.laprensahn.com, 22-6-09.) A "solução" encontrada é notória.
É difícil supor que os comandos militares de Honduras, armados pelo Pentágono e formados na Escola das Américas, que a tantos ditadores latino-americanos ensinou como agir, se tenham movimentado sem o acordo de seus mentores. Além disso, os golpistas não esconderam os motivos de seus ato: Zelaya estava se aproximando demais ao "comunista" Chávez, o venezuelano mais odiado pela Casa Branca: em julho de 2008, sob seu mandato, Honduras aderiu à Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA), o novo "eixo do mal" na América Latina. Demais, não é verdade?
Sim, demais, porque Honduras é território estratégico para o Pentágono, que desde a base de Soto Cano, onde são estacionados efetivos da força aérea e da infantaria estadunidense, não só domina América Central: este verdadeiro enclave é fundamental no esquema militar dos Estados Unidos para uma região rica em recursos naturais. Mesmo que nunca tenha tocado os interesses das corporações estrangeiras nem dos donos locais do poder econômico, Zelaya constituía um perigo de "desestabilização". Cabe assinalar que o referendo sobre a convocatória ou não de uma Assembleia Constituinte que poderia permitir a reeleição de Zelaya não era vinculante. Ninguém se incomodou em Washington pela reforma constitucional que permitiu, na Colômbia, a reeleição de Alvaro Uribe, grande aliado dos Estados Unidos, que nem sequer foi levada a plebiscito. É que uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.
Os golpistas hondurenhos são inapresentáveis. O general Romero Vásquez Velásquez, expulso por Zelaya, de volta com o golpe e autor do sequestro e expulsão do presidente, foi alojado na penitenciária nacional em 1993 junto com outros dez membros de um grupo acusado de roubar 200 carros de luxo (www.elheraldo.hn, 2-2-93). Era então major do exército; como general, se dedica a roubar um governo eleito nas urnas. Outro inapresentável é o ministro conselheiro Billy Joya, que não honra o sobrenome - que significa "joia"* (ou sim, conforme se interprete): foi chefe da divisão tática do batalhão B3-16, o esquadrão da morte hondurenho que torturou e "desapareceu" com várias pessoas nos anos 80. O "Licenciado Arrazola" - um de seus aliados - é especialista na matéria: estudou os métodos das ditaduras argentina e chilena (www.michelcollon.info, 7-7-09). São antecedentes conhecidos, pese o qual, ou por isso mesmo, foi eleito para fazer parte do regime golpista, tão democrático, pois.
A repressão em Honduras continua. Quinta-feira passada, foi detido o pai de Isis Obeid Murilli, jovem de 19 anos assassinado pelo exército no aeroporto de Tegucigalpa: teve a peregrina ideia de exigir justiça para seu filho (www.wsws.org, 11-7-09). Os salvadores da democracia expulsaram os jornalistas da Associated Press, desapareceram da tela do Canal 21 e efetivos armados ocuparam o canal 36 (Miami Herald, 1-7-09). É a concepção da liberdade de imprensa que caracteriza os golpistas.
A Casa Branca segue calma, com o que qualificou de "ato ilegal". Hillary se nega a referir-se ao acontecido como "golpe de Estado" porque isso implicaria automaticamente na interrupção da ajuda econômica e militar estadunidense a Honduras. As conversações sobre um acordo pacífico que acontecem na Costa Rica, em que o presidente Oscar Arias atua de mediador a pedido de Obama, são uma farsa. Mas têm um lado importante: envolvem um reconhecimento oficial do regime imposto. Arias já anunciou que chamará de "presidente" tanto o golpista Micheletti como o mandatário eleito nas urnas e deposto. Isso sim é que é igualdade.

Original em espanhol por Juan Gelman
Tradução por Eliana Guedes
*Acréscimo desta tradutora

(Tradução para o português de artigo publicado em www.pagina12.com.ar - site argentino)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Contar

::::Allí donde uno diría que ya no puede haber nada::::

::::Tu rostro mañana de Javier Marías::::

No debería uno contar nunca nada, ni dar datos ni aportar historias ni hacer que la gente recuerde a seres que jamás han pisado el mundo o que estaban ya medio a salvo en el inseguro olvido.
Contar es casi siempre un regalo,

terça-feira, 14 de julho de 2009

as simples regras

'Ah, se eu pudesse fechar como um telescópio! Acho que eu poderia, se soubesse por onde começar.´Pois, é claro, tantas coisas fora do comum estavam acontecendo, que Alice começou a achar que pouquíssimas coisas, na verdade, eram realmente impossíveis.

Mas ficar parada na frente da portinha não adiantava nada. Então, ela voltou para a mesa, com alguma esperança de encontrar outra chave sobre ela ou, por acaso, um manual de instruções para fechar pessoas como caleidoscópios: mas desta vez, a menina encontrou uma pequena garrafa na mesa (´que, provavelmente, não estava aqui antes´, disse Alice), e em volta do gargalo da garrafa havia um rótulo de papel que dizia ´BEBA-ME`, impresso em bonitas letras maiúsculas.

Tudo muito bem com o ´BEBA-ME`, mas a pequena e sábia Alice não teria pressa em fazê-lo. ´Não, vou ver primeiro´, disse ela, ´se está escrito "veneno" ou não´; pois ela já tinha ouvido contar várias estorinhas de crianças que haviam sido queimadas ou engolidas por monstros selvagens e outras coisas desagradáveis, tudo porque NÃO TINHAM lembrado as simples regras que as amigas lhe haviam ensinado.(...)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

há o que se inventa

(...) Com vocês, que são mais jovens, isso ainda não deve acontecer, mas chega um momento em que a gente confunde o que viu com o que contaram, o que presenciou com o que sabe, o que lhe aconteceu com o que leu, na realidade é milagroso que o normal seja distinguirmos, distinguimos bastante afinal de contas, e é estranho, todas as histórias que ao longo de uma vida se ouvem e se vêem, com o cinema, a televisão, o teatro, os jornais, os romances, vão se acumulando todas e são confundíveis. Já é assombroso que a maioria das pessoas ainda saiba o que de fato lhes aconteceu. (…) Digamos que, fora casos extremos, a memória própria ainda se mantém bastante a salvo, bastante incólume, a gente se lembra do que viu e ouviu pessoalmente de uma maneira distinta de como se lembra dos livros ou dos filmes, mas a coisa já não varia tanto quando se trata do que os outros viram e ouviram e presenciaram e souberam e depois nos contaram.
E há o que se inventa.
Coração tão branco, Javier Marías.

inventa o diário

as mãos
a bic mordida
os números dois, cinco e seis
os pedaços de ouro branco
o papel que brilha
a bola
a corrente
o wagner moura
o soneto da florbela
os passos de quem não manca
cadeira, formiga, marrom
bota precisando tinta
dedo precisando força
óculos no nariz
a janela
a cancela
os carros
o guarda
a porta de vidro abre, fecha
o celular avisa
vai terminar

sábado, 27 de junho de 2009

o ferreira aqui

sábado, 20 de junho de 2009

quarta-feira, 3 de junho de 2009

SE VOS

Vamos che, por que dejar
que tus sueños se desperdicien?
Si no sos vos triste serás,
si no sos vos será muy triste...
 
Por que falsear,
si ser uno es ganar,
por que engañarse y mentirse?


Se vos, no más,
que al mundo salvarás,
aunque muchos lo hagan dificil.
 
Sigamoslo como hasta acá,
prometiendome que lo entendiste.
Digamos fue, si algo anda mal
cumple sus sueños quien resiste.
 
Yo se, dirás:
muy duro es aguantar
- mas quien aguanta es el que existe...
 
Si aquel se va,
no llores ni mires atras,
aunque muchos te lo hagan triste...
 
Se vos, no mas,
que al mundo salvarás
- por que engañarse y mentirse?
 
Yo se, dirás:
muy duro es aguantar.
Mas quien aguanta es el que existe.
 
Por que falsear
si ser uno es ganar
aunque muchos te lo hagan triste?
 
Si aquel se va
no llores ni mires atras
- la vida busca instruirte...


de Almafuerte, Se vos
 

segunda-feira, 4 de maio de 2009

errando se vai longe, agora...

"Desde la infancia apenas se me cae algo al suelo tengo que levantarlo, sea lo que sea, porque si no lo hago va a ocurrir una desgracia, no a mí sino a alguien a quien amo y cuyo nombre empieza con la inicial del objeto caído. Lo peor es que nada puede contenerme cuando algo se me cae al suelo, ni tampoco vale que lo levante otro porque el maleficio obraría igual. He pasado muchas veces por loco a causa de esto y la verdad es que estoy loco cuando lo hago(...)" Rayuela, cap. 1, Julio Cortázar
Assisti, ontem, ao especial O infinito ao meu redor, de Marisa Monte, na TV. Acabo de escrever a passagem de Cortázar e me lembro do que ela diz, contando de uma estréia em São Paulo. Marisa anuncia que vai tocar um samba, pega do cavaquinho. Na platéia, compenetrada, está a autora do samba, Adriana Calcanhotto, entre miles espectadores.
Tudo escuro, Marisa larga os primeiros acordes. Silêncio no recinto. De repente, o rosto dela fica parado. Ela esquecera, por completo, nesses primeiros segundos, a letra da música. Para uma platéia lotada, e exigente, super exigente, como relata ela, durante o especial - a platéia paulista. Na narração, Marisa diz: "um show com erros é um show especial".
Em seguida, a cantora ri. Havia se lembrado! Começa a cantar.
Da platéia, Calcanhotto sorri. Todos aliviados.
É uma hora grave, esta. Humana. Enquanto vai contando da rotina nas tournês, com as imagens dos shows, Marisa fala que é isto, claramente: é um trabalho feito por seres humanos, todos querem que tudo saia perfeito, mas são humanos, provavel que errem.
Muito aplaudida, Marisa termina o samba. Todos - ela, os músicos que a acompanham, e os que a assistem - tornaram-se um pouquinho mais gente aí.

domingo, 3 de maio de 2009

A.Q.E.V.M.C.

Leio Rayuela de vez em sempre, desde 2007, quando fui para Buenos Aires. São meus amigos Horacio/Oliveira, La Maga, o bebê Rocamadour, as pontes de Paris, o circo, o porto, a inacreditável experiência de, entre uma janela de um apartamento e outro, armarem uma tábua para que a equilibrista (que morava em um dos apartamentos), por esta, alcançasse a Horácio (que morava no outro) erva para o mate, estando o casal circense e Horácio com "preguiça" de descerem as escadas para passarem, um, a erva para o amargo ao outro.
A frase "Antes que esta vida me cortázar" = A.Q.E.V.M.C. surgiu, assim, em uma das noites em que eu, deitada em minha cama do beliche no quarto vermelho, em Palermo, relia, ao sabor do jogo da amarelinha, as páginas da obra estupenda de Julio Cortázar.